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Teresa e Vânia

A história intitulada "O outro lado da Lua" é dedicada às minhas duas grandes amigas Teresa e Vânia. Sem elas provavelmente não teria enveredado nesta aventura da escrita! Elas são o meu braço direito. O meu apoio.... Por isso, resta-me agradecer-vos por tudo o que fizeram e fazem por mim! Adoro-vos! Obrigada por serem minhas amigas!
Sexta-feira, 08 DE Outubro DE 2010

A última Jornada

Olá a todos os visitantes! Espero que esteja tudo bem convosco.

 

A minha jornada por aqui terminou. No entanto, achei que tinha de mudar de registo porque eu já não sou aquilo que escrevia aqui. Portanto, aqui fica o meu novo blog:

 

 

http://osultimosdiasnaterra.blogspot.com

 

 

Espero que me façam uma visitinha! ;)

Fiquem bem!

 

 

 

 

Blog oficialmente encerrado.

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publicado por Sophie às 21:45
Domingo, 29 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo VIII

Acendi a luz do quarto. Tudo permanecia como tinha deixado. Deitei-me na cama onde adormeci imediatamente.

Na manhã seguinte, acordei com o despertador. Morosamente, levantei-me e tratei da minha higiene pessoal. Estava com muito sono, pelo que peguei nas primeiras roupas que me apareceram à frente. Tentei encontrar Norma, mas ainda era cedo. Então vi um pequeno papel escrito em cima do balcão onde estava escrito :

" Foste semi-despedida! A partir de amanhã vais estudar.

Trabalhas apenas nos tempos livres. Bons estudos!

Norma"

Olhei para o relógio e ainda não eram sete da manhã. Preparei com calma alguma coisa comestível. Sentei-me numa das mesas e tomei o meu pequeno-almoço descansada. Li um livro e depois preparei a minha mala, onde iria transportar livros, cadernos e outros materiais necessários. Decidi ir um pouco mais cedo, assim podia estar com Denzel. Às oito e trinta saí de casa. Não estava tanto frio, pois uma densa camada de nuvens cinzentas cobriam o céu. Segui as suas instruções: segui sempre em frente até ao fim da rua e depois virei à esquerda e toquei à campainha da primeira casa que vi. Era uma casa grande. Havia um pequeno jardim com relva e alguns arbustos. O acesso ao interior da casa era feito através de uma escadaria de pedra com grades pretas muito elaboradas. Denzel finalmente abriu-me a porta. Sorriu-me e veio ter comigo, abrindo-me o portão. Puxou-me contra ele e beijamo-nos. Exalei o seu perfume divinal.

- Como estás? - perguntou ele conduzindo-me para o interior de sua casa.

- Bem. - respondi.

A sua casa cheirava a café acabado de fazer. O cheiro era deveras agradável.

A casa de Denzel era acolhedora. Era uma mistura de casa rústica com um toque contemporâneo. As paredes estavam pintadas de branco e repletas de quadros que transpareciam o seu percurso. As fotografias eram verdadeiras obras de arte! Pareciam ser trabalhadas, realçando os contornos do semblante de Denzel. A mobília que preenchia a sua habitação remontava o século XVIII. Apesar de ser muito bonita e estar em bom estado, a madeira era muito trabalhada. A decoração era muito simples predominando esculturas sobre a mobília. Existiam também muitas fotografias, nomeadamente de uma idosa muito sorridente com cabelos brancos e olhos verdes com um senhor alto, igualmente sorridente ao seu lado.

- Está a ver a desgraça que eu era? - inquiriu ele espetando o dedo indicador num dos quadros pregados na parede branca.

Olhei mais atentamente para o quadro. Ele não sorria. Estava encostado a uma árvore. Usava o cabelo como o Davey Havok e um piercing no lábio inferior. Não se parecia nada com ele! Actualmente o seu cabelo é mais curto, mais direito e deixava crescer um pouco a barba.

- As companhias não eram as melhores, mas até nem fazíamos muitas asneiras... Só fui para uma vez à prisão... - anunciou afastando-se.

- E achas pouco? - perguntei seguindo-o.

- A culpa nem foi minha! Eu não peguei em nada, o nerd que estava ao meu lado é que pegou no CD, pôs-se a andar e como eu tinha um aspecto pior, paguei eu! - respondeu zangado.

Ri-me à gargalhada.

- Depois acabei por me tornar decente...

- Isso é bom, porque eu gosto da tua decência!

Ele voltou-se para mim e com um ar troçista perguntou:

- Com que então gostas da minha decência, não é?

Olhei para ele desconfiada. Ele virou para cima a manga da sua camisola azul e mostrou-me uma tatuagem. Era... estranha, talvez fosse uma tatuagem tribal. Tinha uma data. 1976.

- Eu gosto. - disse-lhe enquanto baixava a manga da sua camisola.

- Foi a única coisa que não consegui apagar do meu passado.

Aquela conversa não me agradava. Porque estava ele a falar do seu passado? Aquele olhar melancólico e a sua voz baixa não me agradava nada.

- Em que estiveste a pensar na noite passada? - indaguei.

Ele sentou-se num degrau das escadas.

- Em ti. - respondeu.

- E ficaste com essa cara só por pensar em mim?

- Sim. Eu não quero que fiques com o sentimento de gratidão só por estar a fazer isto por ti. Se não queres ficar comigo, eu continuo a fazer isto por ti.

- Ouve, eu já respondi a essa questão, não respondi? Então, faz-me um favor: pára de pensar nisso! Se eu aceitei foi porque quis. Não me obrigaste!

- Mas tu não sabes quem eu sou! - alegou.

- E tu sabes quem sou eu?

- Estás-me a trocar o cérebro...

Sentei-me ao seu lado.

- Hoje precisas de uma psiquiatra. - gracejei. - Podes falar.

Ele sorriu levemente.

- Livie, eu hoje não estou muito bem disposto. Sinto-me mal comigo mesmo, sinto-me até culpado de gostar de ti e ainda uma culpa maior de tudo isto ser recíproco.

- Se eu não sei quem és, por que não me dizes?

Ele voltou a sua face belíssima para mim. Esboçou um pequeno sorriso e agarrou-me a mão.

- Como é possível seres tão...pequena e tão interessante? Só tu...

- Nem todos medem quase 1,90 metros. - vociferei. - Hoje eu sou a tua amiga.

Soltou a minha mão.

- Está certo. Queres mesmo saber, não é? Sabes que eu não escolhi ser psiquiatra à toa... Eu não sou um homem de Deus. Preciso de ter provas, algo concreto em que me possa apoiar. Não acredito em algo só porque mo incutiram em criança. Eu sou um homem de ciência, e antes de ser um homem de ciência era um homem de armas. Entrei para o Exército com dezoito anos. Ninguém percebeu o porquê da escolha, nem eu próprio sabia porque tinha escolhido ir para o exército. Trabalhei imenso e era um óptimo soldado! Elogiado por todos! - suspirou. - Veio a primeira missão. Ainda me lembro, estávamos em Israel e uma bomba rebentou no meio de uma turba. Imediatamente fomos para o local. Fazia imenso calor e aqueles fatos eram quentes. Suávamos por todos os cantos mas sabíamos que se os tirássemos seríamos o elo mais fraco e o primeiro a abater. Fizemos a ronda, vimos os apartamentos, revistamos tudo e não vimos nada. Subitamente, começamos a ouvir tiros na nossa direcção. Como é óbvio, lutamos pela nossa sobrevivência e tentamos arranjar locais onde estejamos simultaneamente seguros e onde possamos abater o alvo. O problema era que nós éramos caloiros... Por sorte, ninguém morreu. Muitos ficaram feridos com balas entranhadas nas pernas, nas coxas e em outros locais. Chegamos ao quartel e mandaram-nos para uma sala. Apartaram os "intactos" e os "feridos". Eu e poucos mais fazíamos parte dos "intactos". Então, uma voz vinda de um altifalante ordenou-nos para abater os "feridos" que estavam encostados à parede escura. Olhamos atónitos uns para os outros e nenhum de nós se atreveu a sacar a arma presa ao coldre. Novamente a voz falou ameaçando matar a família. Eu como já não tinha ninguém, recusei mas a maioria aceitou e começou a atirar sobre os parceiros. Eu ouvi as balas a embaterem contra os seus corpos doridos. Eu estava revoltado e apetecia-me matá-los mas não o fiz. Peguei num jipe e vagueei pelas ruas. Eu pouco conhecia a cidade e se não fossem algumas pessoas, eu não estaria aqui. Passado um ano, recebi a notícia de um aldeão que o exército procurava-me, mas como as pessoas às vezes inventavam, não me acreditei. Um dia enquanto dormia, levaram-me e colocaram-me dentro de um caixão enterrando-me posteriormente. A minha sorte foi eles terem esquecido de apertar uma porca. Pontapeando, consegui abrir e depois foi só escavar. Eu começava a ficar sem ar e quanto mais me esforçava para conseguir sair, com menos oxigénio ficava. Quando consegui sair, vi quatro dos meus parceiros a dormir no chão. - a sua voz falhou. - A minha raiva era tal que saquei a arma de um deles e abati cada um deles. Eu estava fora de mim... - vi que ele estava a chorar. - E resolvi eu alguma coisa? Não! Apenas sujei as minhas mãos com sangue que nunca mais sairá. Destruí famílias, sonhos e ambições. - olhou-me. - Eu posso ser má influência para ti.

Voltou a olhar para o outro lado.

- Continua. - pedi-lhe.

- Depois segui a minha vida. Saí do Iraque, saí do exército e decidi fazer algo de bom pela humanidade para, de certa forma compor o que tinha feito. Entrei na Universidade e especializei-me em psiquiatria. Deixei de lado as armas, as bombas e a minha vida de soldado. - fez uma grande pausa. - Estás com medo de mim?

Encostei a minha cabeça ao seu ombro.

- Não conheço ninguém que não mereça ser perdoado. Se estou com medo de ti? Não. Arrependeste-te, de certeza que não lidaste bem com a situação e já não és o Denzel Stark de antigamente. És o "meu" Denzel Stark.

Ele voltou a olhar para mim e limpou com o punho da camisola os olhos.

- É verdade. Demorei algum tempo a concluir o curso porque entrava em depressões, mas agora sei que tenho de lidar com a situação. Vês o que me fazes? Fazes-me chorar!

- Todos chorámos!

Finalmente soltou um sorriso.

- Faz as contas. - disse-me de repente.

- Não compreendo.

Ele suspirou.

- Quando fizeres as contas, verás que há algo mais. Parte de mim quer dizer-to, outra quer que fiques e me faças sentir feliz.

Eu não estava a perceber e a sua expressão de dor voltou a revelar no seu rosto.

- Quando descobrires, vou sentir-me feliz e simultaneamente miserável por te ter ocultado.

- Agora vais dizer-me, certo?

Ele levantou-se imediatamente.

- E tu continuar-me-ias a falar?

Não respondi.

- És casado? Tens filhos? É isso?

- Não, não sou casado nem tenho filhos. Por favor, falamos mais tarde...

publicado por Sophie às 19:05
sinto-me: +/-
música: Best of you
Terça-feira, 17 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo VII

Norma chegou pousando a sua mala numa das mesas ainda desocupadas. Com um laivo de preocupação no rosto, aproximou-se de nós. Soltei-me dos braços de Denzel, limpando as lágrimas à manga da minha camisola castanha. Norma abraçou-me.

- Está tudo bem contigo? Eu não devia ter-te deixado sozinha... Percy consegue ser muito possessivo.

- Não faz mal, Norma. Como iria adivinhar?

Ela largou-me e ficamos os três a olhar uns para os outros.

- Temos de participar isto à polícia... - sugeriu Norma.

- Não! - protestei. - Ele não me fez nada, e se eu apresentar queixa, a polícia irá perceber que eu fugi de casa! Eu sou maior de idade, mas Jackson não vai demorar muito tempo a procurar-me, e se eu o fizer, mais depressa me irá encontrar.

- Ela tem razão... - admitiu Denzel. - Ele não nos ia alvejar. Ele apenas queria intimidá-la para que ela respondesse afirmativamente ao seu pedido. Ele não é perigoso para os outros. Ele é o seu próprio inimigo. Ele foi meu paciente há algum tempo. Tentou suicidar-se após o falecimento da sua esposa, depois viciou-se no álcool, e , creio eu, que ele só fez isto por ter bebido de mais. - fez uma pausa. - Mesmo assim, continuo a achar que é melhor estarmos atentos. - finalmente sorriu. - Eu encarrego-me da segurança da Olivia.

Sorri também.

- Bem, - disse Norma. - estou a ver que estou a mais. Dado que não há estragos, vou... buscar a Claire e o Chase. Até já!

Norma afastou-se deixando-nos a sós. A multidão curiosa já tinha desaparecido e apenas permanecíamos nós no café. Denzel apanhou o seu casaco, colocando-o cuidadosamente nas costas de uma das cadeiras. Posteriormente, pegou-me nas mãos e disse com um laivo de preocupação:

- Quando eu vi aquele aparato todo, uma voz na minha cabeça disse "Olivia". Foi um acto reflexo. Nem sequer pensei. Entrei e dei de cara com Percy a apontar-te uma arma. - fechou os olhos, como que não se quisesse lembrar de algo. - Fez-me lembrar tanta coisa... Fez-me ter... medo. Medo de não chegar a tempo, de perder, de chegar e ver-te no chão a brotar sangue! Pensamentos horríveis! - voltou a abrir os olhos. - Não dormi na noite passada. Passei a noite toda a pensar naquilo que se tinha passado, procurando respostas, questionando-me constantemente, mas cheguei à conclusão que não posso...

Ainda tinha esperança que ele formalizasse um pedido, mas ele estava a negar qualquer tipo de relacionamento entre nós.

- E... porquê? - questionei estupidamente.

- Porque... embora eu saiba que isto vai contra os meus sentimentos, é melhor para ti.

Comecei a ficar furiosa. Se ele gostava de mim, por que razão estava a fugir?

- Ouve-me. - pedi, fitando-o. - Se queres o melhor para mim, não desapareces. Farta que todos me abandonem, estou eu. Se vais fugir a sete pés, preferia nem sequer te ter visto ou conhecido. - deixei de o fitar. - Se gostas de mim, fica. Não me faças viver novamente na era da escuridão. Estive cega durante anos, e quando finalmente vejo a luz, ela resolve novamente fundir-se na escuridão! Achas que isso me faz sentir melhor? Achas?

Ele nem sequer respondeu. Olhou nos meus olhos, e disse calmamente:

- E se alguém te tivesse mentido? O que farias?

- Ficava chateada. - admiti.

- Então, eu não quero que fiques chateada comigo.

Pegou no seu casaco e voltou-me as costas. Fiquei furiosa com a sua atitude. Ele hesitou ao dirigir-se para a porta. Olhou para trás com uns olhos tristes e acenou-me, voltando-me novamente as costas.

- Espera! - clamei.

Ele olhou para trás. Em sete passos coloquei-me ao seu lado.

- Eu não quero saber se me escondes alguma coisa! A única coisa que eu quero saber é sobre a nossa felicidade. - funguei. - E eu sei que não sou a única aqui que tem sentimentos. Se não o soubesse não estaria a demonstrá-lo.

Ele entrelaçou os seus dedos nos meus e sorriu.

- Eu sou racional. Por quê estar a fugir daquilo que gosto? Não quero ser eternamente aquele que foge dos seus verdadeiros sentimentos. - olhou-me nos olhos novamente. - Ontem encontrei uma resposta para as minhas questões: Amor.

Os seus olhos brilhavam intensamente, tal como o seu sorriso angelical. Eu também, como era de esperar! Finalmente tinha encontrado alguém compatível comigo.

- Aceitas... hum... jantar comigo hoje?

- Acho que não quero recusar! - respondi. - Já agora, é algum sítio especial ou posso levar uma roupa qualquer?

- Vai tornar-se especial. - respondeu.

- Então... até logo.

- Venho buscar-te às oito.

Ele saiu do café e Norma apareceu com Claire e Chase. Claire sorriu-me e Chase prendeu-me com umas algemas de plástico. Norma aproximou-se de mim, sorrindo:

- Está tudo sobre rodas, hem?

Sorri-lhe.

- Sim. - entrei em pânico. - Norma... eu aceitei ir jantar com Denzel mas nem sequer me lembrei que...

- Vai! Às sete horas quero-te fora daqui! No bom sentido...

- Obrigada, Norma.

- Parece que não vamos ter grande clientela. Está um frio de rachar... Podes ajudar a Claire a concluir um trabalho para a escola?

- Claro!

Dirigi-me a Claire que puxou uma cadeira para me sentar. Com a sua voz infantil, ela pediu-me para a ajudar no trabalho de Ciências Naturais. Por acaso, era a minha disciplina preferida e tirava boas notas. O tema era os animais, algo que sempre me interessou.

Apenas os clientes habituais apareceram naquela tarde, pelo que não tive muito trabalho. Claire terminou o trabalho cedo, dando-me algum tempo para limpar as mesas e o chão.

Às sete horas tirei o avental e dirigi-me para o meu quarto. Vesti um vestido de malha preto e nuns collants transparentes. Calcei as minhas botas pretas rasas e peguei no meu casaco igualmente preto. Para dar um pouco mais de cor, coloquei um cinto prateado por cima do vestido. Tratei depois do meu cabelo. Não havia grande coisa a fazer-lhe, a não ser pentear. Vasculhei na minha mochila uma mala. Acabei por encontrá-la e coloquei lá a minha carteira e o meu telemóvel.

Quando olhei para o relógio, vi que faltavam apenas alguns minutos para ele me vir buscar. Ia jurar que não tinha demorado tanto tempo na escolha da roupa! Atravessei o café, anunciando a Norma que já ia. Ela disse-me para ter juízo. Sorri e dirigi-me para o exterior.

Estava muito frio. As estrelas estavam cobertas por nuvens e o vento fazia rodopiar as folhas no chão. A rua estava deserta. Apenas os carros circulavam. Finalmente um carro parou. Um Audi Q7, com vidros escuros parou em minha frente. Denzel saiu do carro exibindo a sua estatura fabulosa.

- Olá. - disse ele dando-me a mão. - Vamos?

- Vamos.

Ele abriu-me a porta do carro e fechou-a, dirigindo-se depois para o seu lugar. Dentro do carro estava agradável. Estava quente e a música que saía do rádio era agradável.

- Estás muito bonita. - disse ele não tirando os olhos da estrada.

- Obrigada.

A condução dele não excedia a velocidade permitida.

Finalmente paramos em frente a um restaurante demasiado chique para o meu gosto.

Ao entrarmos, Denzel ajudou-me a tirar o casaco e entregou-o a um funcionário que se encarregou de os colocar num cabide.

O restaurante estava apinhado de gente. Sentia-me ridícula com aquela roupa. Todas as mulheres envergavam roupas requintadas, enquanto eu apenas trazia um vestido de malha...

Denzel colocou as suas mãos nos meus ombros e segredou-me ao ouvido:

- Não te rales, pois para mim continuas a ser a rapariga mais bonita desta sala.

Um funcionário indicou-nos a mesa. Era uma mesa redonda e encontrava-se suficientemente afastada das mesas ocupadas. Denzel afastou a cadeira para eu me sentar. Deveras cavalheiro.

A luz do restaurante era fraca. Talvez fosse propositado, dado que existia um castiçal no centro da mesa, bem como os pratos, os talheres e ainda um pequeno arranjo floral com rosas brancas. Havia também música de fundo. Homens engravatados encontravam-se num canto a tocar violino. A melodia era bonita.

- Gostas? - inquiriu ele.

- Adoro!

A verdade era que eu preferia a companhia dele do que propriamente todo aquele luxo.

Rapidamente nos trouxeram-nos o jantar e uma garrafa de champanhe. Começamos a mordiscar o jantar. Estava divinal! Por fim, bebemos o champanhe.

- Sabes, pensei em levar-te ao McDonald ´s mas depois vi que não era apropriado para o acontecimento...

- Hum... que acontecimento?

Ele tirou do seu casaco uma caixinha azul. O meu coração palpitou fortemente. Ele olhou-me nos olhos e colocou a caixa à minha frente. Abriu-a delicadamente e eu vislumbrei um anel reluzente com um rubi no centro.

- Vamos tentar? - questionou tirando o anel.

- Sim. - murmurei.

Cuidadosamente ele colocou aquele anel no meu dedo.

- Este anel pertenceu à minha bisavó. - disse ele. - Ela deu-mo quando estava prestes a morrer e disse para o colocar no dedo de quem eu achasse que merecesse. E quando o colocasse em alguém, não o poderia tirar mais.

- Mas tu nunca tiveste ninguém? - perguntei curiosa.

Ele esboçou um sorriso e baixou o olhar.

- Sim, tive. Apenas uma.

- E por que não lhe deste este anel?

- Porque não sabia dele. - confessou. - Aparentemente não queria entrar no dedo dela. - gracejou.

- Ainda... sentes algo por ela?

- Desprezo... - disse rapidamente.

- Isso não é um sentimento muito bom! O que fez ela?

Ele suspirou.

- Para além de me trair, inventou coisas sobre nós que eram mentira. Não estivemos muito tempo juntos.

- Já reparaste que eu não sei nada sobre ti?

- O que queres saber? Nasci na Suécia, vim para cá com quinze anos para morar com a minha avó porque os meus pais morreram a escalar uma montanha. Não me abalou muito esse facto, porque não tínhamos uma relação muito forte. Eles passavam a vida a viajar e eu tinha de ficar em casa com uma senhora qualquer. Na verdade, era divertido. Era muito traquina e só fazia asneiras! - sorriu. - Quando era adolescente era uma praga! Tinha piercings, tatuagens, tudo o que causasse um grande impacto nas pessoas. Andava com más companhias. Fumei o meu primeiro cigarro aos dezasseis... Só acordei para a vida quando fui parar à cadeia por algo que não tinha feito. Aí, passei a ser mais decente e a aplicar-me na escola. Quando já estava a atinar, os médicos anunciam que a minha avó tinha cancro em fase terminal. Conclusão: morreu passados alguns meses e eu herdei parte dos seus bens, nomeadamente a casa onde vivo.

- Lamento...

- Nada disso! Não tens que lamentar nada!

- Ainda tens as tatuagens? - questionei troçando dele.

- Sim, que remédio. Uma no braço, umas quantas nas costas... Algo de que não me orgulho.

Denzel olhou para o seu relógio de pulso.

- Está na hora... - disse ele levantando-se.

- De quê?

- Depois vês.

Caminhamos até à recepção de mãos dadas. Ele ajudou-me a vestir o casaco.

Saímos para a rua, onde o frio era trespassante. Não fomos de carro. Atravessamos a rua, subindo posteriormente umas escadas e avistei um enorme ringue de gelo artificial. Apenas estavam umas crianças a patinar. Olhei para ele e ele fez um gesto para me acalmar.

- Eu... não sei patinar...

- Eu ajudo-te! - disse ele.

Denzel tirou o seu casaco exibindo uma camisola que lhe assentava lindamente. Calcou os patins e fez uma dobra nas suas calças de ganga. Eu tirei apenas as minhas botas. Eu já estava a ver o filme: mal entrasse no ringue, ia cair e partir um braço ou uma perna. Denzel, muito provavelmente iria rir-se de mim...

Comecei por dar pequenos passos, mas se Denzel não me segurasse eu tinha caído. Como as minhas tentativas em patinar davam sempre para o torto, ele decidiu agarrar-me pela cintura, segurando-me firmemente, executando passos graciosos. Com ele a executar os movimentos, eu sentia que podia voar, embora soubesse que se ele me largasse eu cairia num instante.

- Confias em mim? - questionou ele a dada altura.

- Mais do que em mim. - respondi.

- Estás pronta?

- Pronta? Pronta para quê?

Então, ele pegou-me ao colo e começou a patinar a uma grande velocidade. Sentia o vento cortante a gelar a minha face. Agarrei-me ao seu pescoço para não cair.

- Den, por favor, eu não quero cair! - gritei.

Todos olhavam para nós. Deviam pensar que éramos malucos!

- Confia em mim!

Ele aumentou ainda mais a velocidade. Decidi fechar os olhos. Finalmente, ele cansou-se. Levou-me até junto do banco. Largou-me e eu deambulei.

- Eu estou bem. Só estou um pouco zonza.

Ele soltou uma gargalhada.

- Desculpa, achei que ias gostar.

- Gostei da parte em que me pegaste ao colo, mas a corrida foi um bocado... aterradora.

Ele olhou novamente para o relógio.

- Livi, acho que são horas de recolher.

Fiz um trejeito com aboca.

- Pareces o meu pai a falar...

- Sentes a falta dele? - questionou ele enquanto calçava os seus ténis.

- Não.

Calcei as minhas botas e, posteriormente dirigimo-nos para o carro.

- Livi, eu estive a pensar... tu não estudavas?

- Sim, estudava. Porquê?

- Podes voltar a estudar.

- Denzel, não é muito fácil. Se eu me matricular numa escola, vai ser mais fácil para Jackson me encontrar. Eu estou condicionada.

Ele sorriu.

- Bem, se te matriculares numa escola... Mas podes ter um professor particular.

- Denzel... nem penses!

- Já pensei! - troçou. - Amanhã, em minha casa às dez da manhã.

Suspirei.

- Tu não tinhas o direito! Não és meu pai!

- Grande coisa! O teu pai não faria isto por ti!

- Está bem! Obrigada... mas sabes que eu não te posso pagar para já.

- Podes. Com os teus sentimentos.

Corei.

- Chegamos. - anunciou ele num tom de voz baixo.

- Parece que sim...

Ele inclinou-se para mim e os nossos lábios tocaram-se pela primeira vez. Os seus lábios estavam quentes e os meus estavam frios, o que me causou um arrepio que me percorreu a coluna vertical.

Decidi que era melhor terminarmos por ali, por isso afastei-me.

- Obrigada por tudo, Den.

- Obrigado por estares comigo.

Ambos sorrimos.

Abri a porta do carro e saí, atravessando a rua para dirigir-me para o interior do estabelecimento. Ele esperou que eu entrasse. Já no interior, vi que ele desapareceu por entre a noite gelada de Novembro.

publicado por Sophie às 22:24
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Segunda-feira, 16 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo VI

Era tão bom sentir que a minha dor começava a partir. Era bom sentir as feridas fecharem-se enquanto que algo renascia. Era bom sentir que o mundo não girava ao contrário! Era bom sentir que havia algo que me movia.

Segundo Denzel e segundo o seu juramento, ele não podia envolver-se com uma paciente, mas apenas falamos como dois amigos. Dois amigos. Nem sequer nos encontramos no seu consultório! Seria bom que nos déssemos bem... Ele era mais velho, maduro, com consciência das acções e tinha um emprego estável, o que me fazia confiar mais nele.

Passei a noite a sonhar com a minha antiga vida na Escócia. Pormenorizadamente, sonhei com certos episódios que já tinham ocorrido há alguns anos. Nunca havia pensado muito neles, mas eles estavam bem presentes na minha cabeça. Simplesmente foi uma daquelas noites em que preferia nem sequer me ter deitado... Sem dúvida que preferia! Com o que se tinha passado, sempre achei que ia sonhar com Denzel, mas enganei-me redondamente!

A rotina imperou novamente. Trabalhei muito mais que no dia anterior e arrisquei-me a ficar sem vida justamente no meu pré-auge de felicidade.

O café estava vazio. Norma tinha saído para ir tratar dos papéis do divórico e eu fiquei a tomar conta do estabelecimento. Como habitualmente, o texano alcoólico, cujo nome era Percy, pediu uma cerveja e uma sandes mista. Satisfiz o seu pedido em poucos minutos. Depois, Percy começou a tagarelar sobre o seu passado.

- Eu sempre tive todas as mulheres a meus pés. Só a minha pronúncia fazia-as delirar! - sorriu maliciosamente. - Agora, já sou um "cota" e ninguém me quer... - sorviu um pouco da sua cerveja. - A Norma dá-me com os pés todos os dias! Mas, eu gosto dela. Aquela sua estatura, quase escultural põe-me maluco. Mas ela já arranjou outro, não foi? O que vou eu fazer... - fez uma pausa, trincando a sua sandes e mastigou-a com a boca parcialmente aberta. Nojento. - Eu não sou de ficar muito preso a uma pessoa. É um dom que eu tenho! - sorri, irónicamente pousando o pano na bancada. - Por isso, decidi passar para outra. - sorriu novamente exibindo dois dentes de ouro e, maioritariamente amarelos. - Minha querida, - dirigiu-se para mim. - tu és perfeita para mim! Tratar-te-ia como uma princesa!

Começei a afastar-me do balcão e o copo que segurava, caiu partindo-se em mil bocados. Uma expressão de horror invadiu a minha face. Percy continuava a falar sobre a "nossa" vida a dois e que, quem sabia, ainda "iamos" ter crianças a correr em torno de "nós" e a "pedir-nos" centenas de coisas, na qual nós nem sequer "podíamos" pagar metade. Só de me imaginar perto de um homem com quarenta anos, aparentando ter cerca de sessenta, com cabelos loiros, demasiado compridos e degrenhados, com a cara salpicada de barba e aspecto de bêbedo, já para não falar que cheirava a tabaco, álcool e sovaco, dava-me repulsa. Decididamente, estava fora de questão qualquer tipo de relacionamento com aquele homem asqueroso!

- Então, Oliviazita, aceitas casar comigo? - inquiriu ele mostrando uma arma que trazia presa às suas calças de ganga.

Percy dirigiu-se a mim colocando-se de joelhos ao meu lado. Eu fitava furiosamente uma garrafa que se encontrava fora do meu alcance.

- Hum... Senhor Percy... eu... não...

Voltou a mostrar a sua arma intimidadora. Engoli a seco.

- Eu... não posso...hum...bem, eu... não... quero... sou muito nova... - aleguei.

Percy afastou-se lentamente, retirando a sua arma. Brincou um pouco com ela e depois colocou-a voltada para mim. Sorriu-me maliciosamente e caminhou até se posicionar ao meu lado. Eu olhava para ambos simultaneamente. Pois ambos podiam provocar a minha morte, e eu não a queria naquele momento.

- Eu estou habituado que toda a gente me recuse. Mas... tu? Eu prefiro que morras a recusar um pedido meu.

Apontou a arma à minha cabeça. Eu fechei os olhos.

- Agora diz "Aceito casar contigo.". Em voz alta! - disse com a sua voz de trovão.

Uma lágrima escapou-me. Ouvi um "tack" proveniente da arma.

- Eu... aceito... casar... con...

Subitamente vi que dezenas de pessoas estavam a espreitar para o interior do café. Vi alguém a empurrar toda a gente e a abrir a porta de vidro. Denzel. A sua face era inesquecível. Ele entrou dentro do estabelecimento e a arma rodou na sua direcção. Calmamente ele levantou os braços.

- Livi, o que quer que seja que ele te esteja a pedir, não cedas! Por favor! - disse ele arregalando os olhos.

- Com o Denzel. - disse alto para Percy ouvir.

A arma voltou a virar-se para mim. Denzel olhou para mim atónito e com uma certa raiva.

- Tu? Ele? - inquiriu Percy, oscilando a arma entre mim e ele. Finalmente parou em mim.

Denzel tentou fazer com que a arma voltasse para ele.

- Percy, - começou ele - eu sei que você não quer fazer isto. Nenhum de nós quer morrer por causa de uma proposta recusada. Percy, por favor, pouse a arma no chão.

Ele riu-se.

- Ouve lá, Denzel. Lá por teres sido meu psiquiatra e me teres colocado algum juízo na cabeça, não quer dizer que tenhas de controlar a minha vida. Ou seja, desaparece! - gritou. - Ela tem um fraquinho por mim. Afinal de contas, qual é a diferença entre tu e eu? És pouco mais novo e eu sou bonito! Por isso, desaparece. Não estou para gastar dois tiros. - disse voltando a arma para mim. - Mais cedo ou mais tarde ela vai aceitar, não é?

Limitei-me a permanecer calada e respirei lentamente.

- Percy, eu não ou deixar-te fazer-lhe mal. - avisou-o.

- E o que vais fazer tu? Matar-me? Ora! Poupa-me! Vai mudar as fraldas!

Percy dirigiu-se a mim, acariciando-me a face e afagando o cabelo.

- Desisto... - disse Denzel atirando o seu casaco para o chão exibindo uma camisa branca perfeitamente engomada.

Em meia dúzia de passos colocou-se ao lado de Percy.

- Se queres atirar, atira em mim. Depois, podes ficar com ela.

Fiquei atónita com a proposta de Denzel.

- Mas... eu não sou... um prémio... - balbuciei.

Percy novamente colocou a arma em contacto com a cabeça de Denzel. Ele permanecia quieto e calmo.

- Denzel, por favor...

- Não. - disse ele. - Eu não vou deixar que este paspalho te incomode! Eu não admito que se metam contigo! Muito menos um bêbedo que se quer casar a todo o custo! - fez uma pausa. - Gostas dele? Queres casar com ele? - questionou ele rispidamente.

- Não... - murmurei.

Percy apontou-me a arma.

- O que é que te disse?

Denzel tentou agarrá-lo mas ele empurrou-o, fazendo com que Denzel caísse e batesse com a cabeça no chão.

- Por favor... deixe-me... - implorei com as lágrimas a escorrer pela face abaixo.

Fechei os olhos quando ouvi um "tack" e ele encostou a arma à minha cabeça. Subitamente ouvi outro som. Abri os olhos e vi que Percy já não tinha a arma; Denzel estava com ela apontada para ele.

- Agora, vais sair deste café, vais pegar nas tuas coisas e vais deixar de atormentar a Olivia e a Norma. Estamos entendidos?

Percy pegou no seu casaco de cabedal. Parou em frente a Denzel na esperança que lhe devolvesse a arma, mas ele não a deu. Saiu pela porta de vidro em direcção à rua onde abriram alas para a sua passagem.

E corri para Denzel que abriu os seus braços reconfortantes. Eu não estava com medo. Com a sua presença, o medo não existia no meu dicionário. Apenas chorava por duas razões: por pensar que se Percy o alvejasse, provavelmente ele teria de partir, e porque estava feliz por, finalmente, cair nos seus braços.

 

publicado por Sophie às 18:09
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Sexta-feira, 13 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo V

Denzel pousou uma nota na mesa onde estávamos sentados. Era suficiente para mais três refeições. Coloquei a nota na máquina registadora e, num saquinho de plástico coloquei o troco para lhe dar amanhã. Finalmente, apaguei as luzes e dirigi-me para o pequeno quarto ao fundo do estabelecimento. Não era muito grande. Havia uma cama de solteiro com um edredão verde azeitona. A cama encontrava-se ladeada de duas mesas de cabeceira de madeira, com um pano encardido de renda subposto de candeeiros brancos. Aos pés da cama havia uma cadeira e um espelho na parede amarela. Sentei-me um pouco na cama. Ela rangeu um pouco. Preguiçosamente retirei os meus ténis com a biqueira do outro ténis, atirando-os para o canto do quarto. Procurei por um pijama e quando o encontrei, vesti-o e deitei-me, adormecendo pouco tempo depois.

O maldito despertador tocou às sete da manhã. Procurei alcançá-lo para calá-lo. Levantei-me calçando os chinelos e dirigi-me à casa de banho para tomar um duche. Enrolei-me na toalha e atravessei o café para vestir-me no quarto. Optei por escolher umas vulgares calças de ganga escuras, uma camisola de mangas compridas violeta com um estampado e uns ténis que tinha comprado alguns dias anteriores à minha fuga. Prendi o cabelo com um elástico. Fiz a cama e preparei-me para o café da manhã.

Norma já estava no café. Tinha em cima de uma mesa pão, leite e iogurtes. Sentou-se na mesa e desejou-me um bom dia. Desejei-lhe também.

- Serve-te. - disse ela num tom amável.

- Obrigada.

- Então já começaste a derreter corações... - comentou enquanto colocava o leite na chávena, mexendo-o com frequência.

- Não. - disse enquanto degustava um pouco de pão com manteiga. - Apenas estávamos a falar.

- Está bem. Vou fingir que acredito. Temos de admitir que ele é bonito.

- Muito... - completei.

- Estou a ver... - sorriu. - Eu conheci o John da mesma forma que tu, mas parece que não fomos feitos um para o outro... - murmurou.

- Lamento.

- Não lamentes! Eu é que lamento ter-me deixado enganar. - Bebeu um pouco de leite. - Bem, podes contar-me o que te aconteceu?

Aquela altura tinha de chegar. Tinha de lhe contar. Eu gostava de Norma, e não queria desiludi-la depois de tudo o que ela estava a fazer por mim. Ela podia simplesmente mandar-me trabalhar para ela e não me deixar ficar com o quarto. De qualquer das formas ela não me conhecia! Eu podia ser uma assassina ou  uma ladra! Por alguma razão estava a confiar em mim, e eu devia confiar nela. Então contei-lhe a razão pela qual me encontrava fora de casa. Ela não fez qualquer comentário. Apenas me avisou que mais cedo ou mais tarde, fotos minhas iriam circular pela Internet e pela televisão. Eu tinha de me mudar. De mudar de visual. A verdade é que aquele corte de cabelo fazia com que eu não fosse eu, o que já era uma grande ajuda! Norma deu-me a manhã para comprar o que necessitasse, dado que Jackson provavelmente me iria cancelar o cartão de crédito.

Comecei por comprar roupa. Era-me essencial e eu tinha de deixar o meu estilo desportivo e adoptar um estilo mais "adulto". Comprei camisas, casacos cintados, calças de ganga e botas. Deixei de lado os tacões. Não faziam parte do meu estilo. Estupidamente comprei um par de sabrinas, sabendo que provavelmente não as iria usar. Lembrei-me que podia comprar lentes de contacto de outra cor. Dirigi-me a uma óptica e optei por umas lentes azuis. Apanhei o autocarro e voltei para o café apressando-me a pegar no avental.

O texano alcoólico já ali estava e Norma estava farta de o aturar. Percebi pela sua expressão facial. Ela veio ter comigo e entregou-me um papel branco. Sorriu e voltou para o balcão.

No papel havia apenas uma pequena frase com uma letra impecável "Não te esqueças do que me prometeste.". Guardei-o no bolso traseiro das minhas calças de ganga.

O dia passou ligeiramente depressa. Os clientes intensificaram-se da parte de tarde, devido à súbita queda de neve. Quando não tinha nada para fazer, aproveitava e sentava-me numa das cadeiras aproveitando para ler alguma coisa. Por vezes, queria que Denzel entrasse por aquela porta de vidro e me levasse dali. Rapidamente voltava à realidade quando Norma me colocava à frente do nariz um pano cinzento húmido para limpar as mesas.

Os filhos de Norma, Claire e Chase, de respectivamente doze e seis anos, apareceram no café. Claire sentou-se numa mesa a folhear um livro e a escrevinhar num caderno ao lado. Já o seu irmão correu por todo os estabelecimento mascarado de Batman, recrutando alguns clientes para a sua brincadeira.

Claire já era uma moçinha. Tinha olhos claros com os cabelos a caírem-lhe aos cachos pelas costas abaixo. Já era alta para a sua tenra idade. Chase continuava a correr como um desalmado.

Algumas caras já não me eram estranhas. O senhor John com o seu característico cabelo grisalho pedia sempre um café pingado. A sua esposa, Mary, ao pequeno-almoço comia sempre uma torrada barrada com manteiga de ambos os lados e o torrada era sem côdea, devido aos seus dentes serem demasiado frágeis. Maggie, a contabilista, gostava da sua sopa bem quente e Sarah adorava o pão bem branquinho e fofo. Eram as pequenas coisas que faziam os clientes ficarem contentes.

Com o decorrer do dia, a minha empolgação ia aumentando. Até cheguei a pensar qual a roupa que ia vestir, embora soubesse que era escusado!

Ao inicio da noite o café voltou a encher, não restando qualquer mesa nem qualquer cadeira. Denzel não apareceu para jantar. Alimentei uma esperança de vê-lo antes do nosso encontro durante o dia.

Olhei centenas de vezes para o relógio pendurado na parede. Finalmente as vinte e três e trinta chegaram. Atirei o meu avental e corri até aos meus aposentos. Conjuguei as minhas calças pretas com uma camisa de flanela vermelha. Coloquei um cachecol preto e vesti um casaco preto de fazenda. Calcei as sabrinas que pensei que não ia usá-las e depois penteei o cabelo. Olhei para o relógio de pulso e vi que faltavam apenas escassos minutos. Apaguei as luzes do quarto e dirigi-me para o exterior.

O vento era cortante. A neve caiu deixando o pavimento da estrada, bem como o passeio pedonal coberto de uma espessa camada branca imaculada. O banco verde ainda estava vazio, cobrindo-o apenas o manto de neve. A minha respiração formava uma nuvem em frente ao meu nariz. Quando era criança costumava divertir-me a fazer aquilo. Fui-me deslocando preguiçosamente até ao banco verde. Afastei com a mão a neve, sentando-me de seguida. Apressei a aquecer as mãos. Olhei novamente para o relógio e faltavam apenas escassos segundos. Olhei e ao fundo da rua um vulto movimentava-se a um ritmo acelerado. Era Denzel. À medida que se aproximava, eu envergava as suas roupas; não trazia um fato. Vestia umas calças de ganga claras rotas nos joelhos, uma camisola verde-escura e um casaco preto. Parecia trazer um cachecol e umas Gazelle, da Adidas.

Ele levantou-me a mão enquanto caminhava em minha direcção. Retribuí. Quando chegou à minha beira, cumprimentou-me. A sua face estava gelada. Tal como a minha.

- Acho que devia ter marcado noutro local. - observou Denzel olhando em sua volta.

- Eu estou bem. - disse.

- Ainda bem.

Denzel sentou-se na parte superior do banco, de modo que eu ficasse na parte inferior. Talvez ele achasse que seria mais fácil para mim falar se não tivesse de olhar fixamente para o seu rosto.

- Não és inglesa, pois não?

- Não. - respondi. - Sou escocesa.

- Pois, nota-se no teu sotaque. Não que o teu sotaque me incomode. De certa forma, acho-o bastante interessante...

Sorri sonoramente.

- Porque vieste para aqui?

Deixei passar algum tempo.

- Hum... Apenas achei que era tempo de mudar.

- Mudar? - inquiriu ele com um tom de troça à mistura.

- Sim, não há nada de errado nisso. Mudar é bom. Eu penso assim.

Subitamente fez-se silêncio.

- E... o que te fez mudar?

- O meu "eu".

- Bem, de certa forma o teu "eu" pronunciou-se. Mas... continua.

- Já terminei. - disse olhando para ele por cima do meu ombro.

Ele fitava-me atentamente, pelo que desviei logo o olhar. Calmamente disse:

- Eis o meu diagnóstico clínico: tu não me conheces. Posso estar a mentir-te e nem sequer ser psiquiatra. Sei que não psicólogo, mas gosto de ouvir as pessoas e ajudá-las. Mas, como deves perceber, é-me muito difícil lidar com as pessoas quando elas me estão a mentir. E tu, não disseste nada que equivalesse à verdade.

Corei.

- Eu percebo-te. Percebo o comportamento das pessoas. Percebo coisas que queria não perceber e levo preocupações comigo todos os dias. - fez uma pausa. - Agora, por favor, diz-me. Quero ajudar-te.

- Eu não tenho dinheiro para te pagar. - anunciei, embaraçada.

- Terás. Eu observo muito bem. - disse enquanto sorria.

Aquele sorriso fazia-me suspirar, mas consegui-me conter.

- Eu cometi um erro. Aliás, eu só cometo erros que para o meu pai deveriam ser punidos com pena de morte. Colocar um objecto fora do local é equivalente a castigo de uma semana. A verdade, é que eu já não tenho idade para castigos! - sorri amargamente. - Ele não gosta muito de mim. O que lhe valia, era o facto de ser médico e passar muito tempo fora de casa. Nunca compareceu em nenhuma festa da escola em que os pais eram convidados e, como eu não tinha nem tenho amigas, a sua presença significava muito para mim. Nunca foi um pai presente e, afectou bastante o meu normal crescimento. Eu nunca fui de ter muitos amigos. Tive dois em toda a minha vida. A primeira vez que fui a um baile, o meu pai nem sequer apareceu em casa para ver como eu estava. A verdade, é que eu estava um espanto! Também tinha razões para me aperaltar daquela forma! Nunca se importou se eu comia ou não em casa. As férias era sempre um período difícil para ambos. Termos de nos cruzar constantemente era horrível para ambos! - suspirei. - Comecei a tornar-me a típica rebelde... Saí de casa bem cedo e voltava bem tarde. Vestia-me como uma autêntica punk para chocar Jackson. Usava maquilhagem exagerada, roupas pretas e as tachas faziam parte do meu vestuário. Mas todos continuavam a troçar de mim. Eu fechava-me em copas e distanciava-me de todos. - sorri. - Depois, inesperadamente a luz apareceu no meu caminho. Eu estava num bar sentada a ler uma revista e um sumo, quando vi um rapaz a sorrir-me. Olhei em torno mas mais ninguém estava ali. O rapaz tinha o cabelo loiro e um pouco comprido. Parecia um anjo rebelde! O seu nome era Caleb. Era três anos mais velho que eu. Ele mudou-me completamente! Namoramos dez meses, até que a era da escuridão voltou. Ele morreu carbonizado enquanto tentava tirar a sua avó acamada do apartamento quando houve uma fuga de gás. - as lágrimas começavam a picar-me os olhos. - Depois, novamente me começaram a troçar e a lembrar-me de Caleb, mesmo sabendo que me era difícil. Perdi a cabeça há uns dias atrás e uma rapariga foi parar ao hospital... Esta é a minha história. - disse finalizando.

Ele não falou. Fitou durante algum tempo a rua deserta e depois sentou-se ao meu lado.

- Trauma pós-morte e uma infância e adolescência difícil. É esse o meu diagnóstico. Mas acho que estás disposta a que essas feridas se curem e só há uma forma. - disse. - Apetece-te chorar? - questionou ele.

Nem sequer me deu tempo para responder. Elas irromperam dos meus olhos em catadupa. Ele puxou-me contra si. Por momentos, senti que era Caleb que me abraçava, mas não era.

- Faz bem chorar. Chora. - dizia enquanto me dava palmadas leves nas costas.

Afastei-me dele e limpei as lágrimas.

- Costumas fazer isto a todas as tuas clientes? - inquiri tentando ser engraçada.

- Elas é que costumam agarrar-me! - respondeu soltando uma gargalhada.

- Obrigada. Eu nem sei como...

- Chiu... eu não quero nada. Quero ver-te feliz.

- Não me conheces. - disse.

- Mas adorava.

Ele era deveras atraente. Conseguia ser mais bonito que Caleb.

Denzel inclinou-se lentamente para mim. Eu também me inclinei, mas ambos paramos imediatamente.

- Isto não está certo. - disse ele. - Não me posso interessar por uma paciente!

- E... se a paciente quiser? - questionei a medo.

- Eu sei que sentes qualquer tipo de atracção por mim. Eu percebi pelo teu nervosismo, mas este mecanismo do "amor" é-me bastante complexo! Eu não sei como funciona, nem como é accionado! Eu não fui ensinado a amar. - disse num tom cheio de nervosismo. - Eu sei que posso, mas por que razão estou eu atraído por ti? Eu sinto um formigueiro na barriga desde que te vi naquele café!Estavas tão linda que me atrevi a convidar-te para jantar!

Corei imediatamente.

- E eu fiquei embabascada quando te vi. Pensei estar ver uma miragem ou algo do género! - confessei. - Falaste para mim como se me conhecesses desde sempre. Depois, quando me disseste que procuravas uma familia para aquele miúdo porque o tinhas visto na rua sozinho, eu pensei que gostava de ter alguém assim.

Um silêncio ensurdecedor abateu-se.

- O que quer isto dizer? - questionou ele a certa altura.

- O que quererá isto dizer... - disse soltando depois um suspiro.

- Sugiro que amanhã nos encontremos. - sugeriu.

- Acho que posso.

Denzel arremessou com força uma grande bola de neve que me atingiu na cara.

- Vais pagá-las! - ameaçei.

Atirei-lhe também neve. Ele não deu tréguas. Então, assim começou uma guerra de neve. Nós riamo-nos tão alto que a certa altura, alguém disparou um tiro.

- Ups! Acho que isto é um aviso para nos calarmos! - constatei.

Ele olhou para o relógio de pulso.

- Pois, já são duas da manhã... - informou.

- Eu estava-me a divertir tanto que nem dei conta das horas passarem! Já não me divertia assim há algum tempo...

- Nem eu!

- Mas eu tenho de ir. - anunciei. - Amanhã tenho de acordar cedo.

Ele segurou-me as mãos firmemente.

- Apetece-te ir?

- Não... Mas amanhã aparece no café. Almoça lá.

- Vou fazer os possíveis.

- Então...hum... até amanhã.

- Até amanhã.

Despedimo-nos com um beijo na face e ele esperou que eu entrasse.

publicado por Sophie às 10:52
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Terça-feira, 10 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo IV

As escassas pessoas que entravam no café, olhavam e cochichavam a meu respeito. Eu tinha de me controlar. Era normal que falassem, pois não me conheciam. Atendi cerca de duas dezenas de pessoas, desde crianças a adultos tarados. Foi uma tarde muito complicada. Tive de me habituar a um homem que tinha um aspecto horrível, cheirava a álcool e teimava em casar-se com Norma. O homem dificultou-me as tarefas, dado que Norma tinha de se esconder, determinando assim que as tarefas estavam por minha conta.

Cheguei à noite completamente estafada. Os meus ténis pareciam rochas, magoando-me os pés.

Apesar do pequeno café ter poucos clientes, esses exigiam muito dos funcionários. Queriam tudo como mereciam. Provavelmente levar-me-iam à loucura se não parassem de me fazer queixas sobre o estado da chávena, ou da temperatura do café ou ainda de outros clientes que estavam a perturbar o espaço.

Alguns passavam o dia no café. Sobretudo as pessoas de mais idade. Gostavam de Norma porque ela dava-lhes a atenção que os filhos nunca lhes deram, mas quando o texano alcoólico chegava, ela não podia aparecer e fazer as suas boas acções. Muitas das vezes nem pediam nada. Só queriam falar e ler o jornalzito. Como diria Norma: "Não posso simplesmente colocá-los fora do estabelecimento!".

Olhei para o relógio. Marcava as oito da noite. Ainda faltavam quatro horas para o encerramento e eu já estava cansada. Olhei através do vidro para o exterior. Já estava noite e o nevoeiro começava a abater-se sobre a cidade. Algumas pessoas passavam a pé olhando para o interior agradável do café. Umas entravam, outras não. Começou-se a aproximar a hora de jantar. Certamente era o período do dia em que o café fazia mais dinheiro. Algumas pessoas vinham cansadas do trabalho e preferiam ir comer alguma coisa ao "Pandora" que oferecia uma vasta lista de refeições económicas. Subitamente, o café começou a encher e o meu trabalho acresceu também. O texano alcoólico finalmente desistiu de pedir Norma em casamento. Pelo menos naquele dia.

Pratos de sopa, arroz de pato e uma imensidão de outros pratos, saíam a grande velocidade da pequena cozinha. Tinha medo de deixar cair um prato em cima do cliente, mas isso não aconteceu! O mais irritante era o facto de ter de ouvir o burburinho das pessoas a falarem das suas relações falhadas, dos seus empregos, dos seus filhos que extorquem o dinheiro e só compram droga. Olhei novamente para o relógio; apenas tinham passado vinte minutos.

Eu estava à beira de um ataque de nervos! Já não podia ouvir mais as lamúrias das pessoas. Nunca fora boa ouvinte, se calhar por nunca ninguém me ter confidenciado rigorosamente nada. Finalmente o café começou a esvaziar por volta das dez e trinta da noite. Novamente teria de pegar nos pratos, nos talheres e nas chávenas, lavar tudo meticulosamente e colocar tudo no respectivo local. O mais complicado, e o que me enervava mais, era ter de tirar os guardanapos que os senhores e as senhoras que, e talvez os filhos destes incentivados pelos pais, colocavam no interior da chávena! Mas, aquele serviço estava-me destinado. De qualquer das formas, eu tinha de o fazer. A minha tarefa terminou às onze e vinte. Procedi depois à limpeza total do estabelecimento, ocupando-me assim um bom tempo. Depois de terminar esse serviço, perto da meia-noite, fechei a porta de vidro fazendo deslizar os estoros. Subitamente ouço um som no vidro. Alguém estava a bater no vidro. Subi o estoro e meia desconfiada olhei para o exterior. Um homem branco com cabelo castanho mel, olhos azuis, deveras bonito trazia pela mão um miúdo sujo, desnutrido e esgalgado.

- Por favor, deixe-nos entrar! - pediu o homem.

Como ainda estava encantada com a figura masculina, nem tinha aberto a porta.

- Hum... Entrem.

Os dois entraram ocupando uma mesa perto do balcão.

O homem envergava um sobretudo de fazenda negro, com as golas viradas para cima. Parecia trazer um fato. Ninguém andava de calças de ganga com uns sapatos pretos do Hugo Boss. O miúdo, em contraste com o homem, envergava um casaco verde desbotado e roto nos cotovelos. Uma enorme camisola de lã revestia o seu tronco franzino. As suas calças de ganga estavam num estado deplorável e os seus ténis estavam velhos. O miúdo não falava.

Parei de fazer observações e dirigi-me à mesa onde ambos se sentaram.

- O que vão desejar? - questionei pegando no meu bloco de otas e na minha esferográfica.

- Pode ser uma sopa bem quente. - respondeu-me.

- Não vai querer nada?

- A menos que nos faça companhia! - convidou informalmente.

- Acho que não será possível. A proprietária..

- Oh! Se eu a vir, digo que a conheço. Aceita?

- Está bem.

Saí imediatamente de perto daquele homem atraente, simpático e amável. Perguntei-me que idade teria ele. A julgar por tudo o que tinha visto nele, dava-lhe uns trinta anos. Mentalmente fiz as contas, e doze anos "separavam-nos".

Rapidamente levei os pratos para a mesa. Três. Vi o misterioso homem a falar com o miúdo. Depois vi-o dirigir-se ao balcão.

- Peço desculpa, mas acho que vou escolher outra coisa. Não vai jantar só sopa. Traga algo a seu gosto.

Sorriu discretamente permanecendo junto ao balcão. Retirei algo à pressa de uma das panelas. Coloquei os pratos em cima do balcão para colocá-los numa bandeja para ser mais fácil o transporte. Quando me preparava para levá-los, eles já tinham desaparecido. Olhei em torno e vi que o rapazito já estava a comer. Quanto ao homem, não o consegui ver porque estava de costas voltadas para mim. Atirei o avental para trás do balcão e dirigi-me para junto do desconhecido simpático. Não sabia exactamente por que razão estava a reagir assim com um estranho. Normalmente fechava-me em copas e ignorava a presença desse desconhecido. Daquela vez algo me dizia para aceitar o pedido. Assim fiz. Sentei-me em frente ao rapazinho que estava esfomeado. Sorri para ele.

O homem passou-lhe a mão pelo cabelo crespo.

- Estava a atravessar a rua quando o vi a tremer de frio. Não era justo deixá-lo ali. Apenas tinha uma manta esburacada. Perguntei-lhe se ele falava inglês, mas ele respondeu-me algo em espanhol. - fez uma pausa sorrindo-me. - A sorte dele é que tirei um curso de espanhol enquanto frequentava a faculdade. Ele disse-me qualquer coisa como "Ajuda-me!". Ele não deve ter ido à escola. A linguagem dele é primária.

O homem começou a falar para o miúdo. Provavelmente perguntou-lhe o nome, pelo que o rapaz respondeu "Pancho". Depois não percebi mais nada.

- E como é que se chama? - inquiriu o homem.

- Olivia. Não me trate por "você". Não estou habituada. - pedi.

- O mesmo se aplica a mim. Eu chamo-me Denzel, a propósito.

- Prazer em conhecê-lo.

- O prazer é todo meu. - disse dando-me um aperto de mão.

- O senhor foi muito amável...

- Senhor?! Hum... que idade me dá.. dás?

- Bem... vinte e nove?

- Hum... menos. Vinte e cinco. Tu tens cerca de dezanove, vinte. Acertei?

- Dezoito, mais precisamente.

- É uma boa idade. Também já os tive.

Sorri. Na verdade Denzel era... interessante e mais novo do que eu pensava. Ele era absolutamente aquilo que eu sonhava. Bonito, formado, culto, amável e com uma voz suave e firme. Mas tudo era uma mera atracção.

Vi Norma a espreitar atrás da porta. Ela viu-me e piscou-me o olho e depois desapareceu.

O rapazinho terminou a sua refeição e nós mal tínhamos tocado na nossa.

- Parece que esta noite vou ter de encontrar um local para este rapazinho morar. Uma família, de preferência. - fez uma pausa. - Não me posso demorar muito. Acho que temos de ir.

Denzel falou para Pancho algo que eu não percebi. Pancho sorriu-lhe e assentiu com a cabeça.

- Olivia, adorei conhecer-te. Acho que vais precisar disto.

Enterrou-me na mão um cartão branco.

"Centro Psiquiátrico Stark"

- Não preciso de saber aquilo que as pessoas me contam. Vejo pelo seu olhar e pelo seu tom de voz. E tu, não estás bem. Amanhã vem ter comigo. - disse. - Espero por ti no banco do outro lado da rua. Não como psiquiatra, mas como amigo.

- Está bem. - balbuciei.

Denzel pegou suavemente na mão do rapaz e este seguiu-o a saltitar. Parou ao meu lado e deu-me um beijo na face. Corei.

- Gracias! - disse o rapaz.

Sorri-lhe porque não sabia responder na língua dele.

- Até amanhã. Espero por ti à meia-noite em ponto.

Denzel afastou-se levando consigo o menino. O seu perfume permanecia no ar. O mesmo que Caleb usava.

publicado por Sophie às 14:37
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Quarta-feira, 04 DE Agosto DE 2010

O outro lado da Lua - Capítulo III

Sempre me disseram que a vida pode dar uma reviravolta tremenda e nós podemos nem sequer saber onde nos encontramos no meio dela. A verdade é que já levei muitos abanões e tive muitas desilusões. Mas, naquele momento, estava disposta a esquecer tudo o que haviam feito, esquecer todos aqueles que tinham contribuído para o meu mau estar. Pelo menos, esperava eu, conseguir esquecer tudo embora soubesse que não podia simplesmente fazer um "delete" e todas as memórias más desvanecerem-se. Embora adorasse se tal acontecesse!

Estranhamente, eu sentia-me...feliz. Um tanto aliviada. A vantagem é que não teria de enfrentar a angustia de Jackson todos os dias, cada vez que olhava para mim e via no meu rosto a sua Lois. Era-me difícil olhar directamente para ele, pois sabia que ele sofria sempre que se cruzava comigo. Chegava a pensar, quando era mais nova, que a melhor solução era ele ter-me dado para adopção. Ainda hoje não sei porque razão não o fez.

Os meus pensamentos deixaram de divagar quando a mulher anunciou a nossa chegada. O dia não estava lá muito risonho. Não interpretei esse facto como um presságio.

Saí do carro arrastando as minhas mochilas velhas. Coloquei o capuz para ocultar a desgraça que tinha feito ao meu cabelo. A mulher conduziu-me até a um pequeno bar que havia do outro lado da rua. Entramos e eu mirei o bar. Estava quase vazio. As paredes estavam pintadas de castanho com uns círculos dourados sobrepostos sobre a parede. A iluminação era fraca. Cerca de quinze mesas de madeira redondas e de madeira, bem como cadeiras revestidas com pele de avestruz, revestiam parte do espaço do café, situando-se do lado esquerdo o balcão repleto de bolos e sumos. Na parede atrás do balcão, existiam prateleiras repletas de bebidas alcoólicas. Ao fundo do estabelecimento, onde a intensidade da luz era maior, existia uma espécie de quiosque onde vendiam revistas, maços de tabaco e peças de colecção. Um funcionário colocava delicadamente as revistas nas prateleiras. Finalmente apareceu uma mulher alta e esguia com os cabelos encaracolados a caírem-lhe como uma cascata até meio das costas. Aparentava ter cerca de quarenta anos, mas envergava roupas demasiado jovens.

A mulher que me deu boleia, dirigiu-se a ela cumprimentando-a e sorrindo uma para a outra enquanto tagarelavam. A mulher finalmente chamou-me querendo saber os meus dados pessoais e se eu tinha experiência.

No Verão passado trabalhei numa esplanada perto de casa. Era uma boa forma de sair de casa de manhã cedo e só voltar tarde.

A mulher esguia e com um sorriso branco apresentou-se:

- Eu sou a dona deste bar. O meu nome é Norma. Apenas quero saber as tuas habilitações literárias e, obviamente, o teu nome para fazer o teu crachá.

- Chamo-me Olivia Song e estava a terminar o 12º ano. Eu sei falar espanhol, se for necessário atender clientes espanhóis, eu posso comunicar com eles. - informei.

- Estás disposta a começar hoje? - inquiriu Norma.

- Sim!

- Hum... - e apontou para o meu cabelo - Não queres arranjar o teu cabelo? É que dá... mau aspecto ao estabelecimento. A tua sorte é que não o cortaste muito rente. - sorriu-me. - Há um cabeleireiro nesta rua. A placa vê-se daqui. Vai lá num instante.

Voltei-me para a senhora que me deu boleia e agarrei-lhe na mão.

- Muito obrigada, minha senhora. Nunca me vou esquecer de si!

A senhora ficou corada.

- Minha jovem, não tens de agradecer! Não podia deixar uma rapariga com cara de anjo no meio da rua e no meio de um nevão!

Saí a correr e corri até ao cabeleireiro. Vi a placa logo que saí do café.

Quando lá cheguei, não estava ninguém. Então a rapariga que me atendeu, começou por me lavar a cabeça. Questionou o que queria fazer ao cabelo. Sugeri-lhe que fizesse algo que me ficasse bem e que disfarçasse aquele corte rebelde. Resolvi dar ao cabelo umas nuances mais claras. Era uma boa maneira de ninguém me reconhecer, caso Jackson resolvesse procurar-me. A rapariga cortava o cabelo de modo a que ele ficasse mais apresentável.

- Porque razão cortou o cabelo daquela forma?

- Um momento de rebeldia... - confessei.

Olhei-me ao espelho. Aquela não era eu. O meu cabelo comprido desapareceu, dando lugar a um corte mais curto, pelos ombros. O meu cabelo estava mais claro, brilhava. Até não estava muito mau. Com o tempo iria crescer novamente. Paguei com o cartão de crédito, aproveitando enquanto Jackson não dava a minha falta.

Novamente corri sob as grossas nuvens que ameaçavam chuva dentro de pouco tempo. Norma já se encontrava com o avental que me estava destinado e entregou-mo.

- Agora estás bonita! Qualquer dia vais-me explicar o que aconteceu contigo. - sorriu-me passando a mão pelos seus cabelos. - Levanta, por favor, os copos e os pratos daquela mesa.

Quando me preparava para ir retirá-los, Norma agarrou-me no braço.

- Tens onde ficar?

- Não... - respondi.

Ela suspirou.

- O café já esteve aberto vinte e quatro horas por dia, e existiam turnos. Então, decidi colocar um quarto para os funcionários descansarem enquanto não estava ninguém no café. Portanto, ele é teu! - sorriu-me novamente. - Peço imensa desculpa de não te poder convidar para ficares em minha casa. Pareces ser ajuizada, mas estou preparar o meu divórcio e o ambiente não é muito bom. Nem mesmo a minha filha gosta de estar lá, e é por isso que fica em casa da avó.

- Muito obrigada por aquilo que está a fazer por mim! Fico-lhe muito agradecida.

Dirigi-me para a mesa que estava suja e levantei os copos, limpando posteriormente a mesa com um pano.

publicado por Sophie às 15:51
sinto-me:
música: soon we´ll be found
Sábado, 31 DE Julho DE 2010

O outro lado da lua - Capítulo II

A notícia do meu comportamento caiu como uma bomba. Jack não compreendia a razão pela qual fiz asneiras. A verdade era que eu nunca tive comportamentos violentos nem nunca falei com ele acerca da minha relação com os colegas de turma. Daí a ele não perceber as minhas razões. Ele berrou comigo, ficou chateado e ainda fiquei de castigo. Boa! E... uma semana de suspensão. Pelo que ouvi, Brenda tinha um dente partido, o lábio estava inchado e vários hematomas no semblante. Eu só tinha uns arranhões que mal se notavam. Após aquele sermão, ele saiu de casa de volta para o hospital porque tinha uma operação urgente. Novamente fiquei sozinha, sem ninguém para falar e privada de computador e telemóvel.

Sentei-me no sofá de couro que se encontrava na sala, e liguei a televisão. Não estava a dar nada de interessante. Então, reflecti. Talvez o facto de ser tão reservada, despoletasse a minha raiva interior e me fizesse agir violentamente. Talvez o facto de Jack não me ligar patavina e passar muito tempo fora de casa, fizesse-me ficar ainda mais reservada. Gostava de ter um irmão. Mais velho, de preferência. Nunca tive uma relação muito boa com crianças. Sempre as vira como pestes e um pouco rabugentas. Comecei a pensar naquilo que tinha feito: foi mau, muito mau. Eu deveria ter-me controlado. Eu nem sequer deveria ter ouvido aquelas palavras. Deveria ter fingido que ela não existia. Mas, depois das coisas feitas não há nada a fazer. Eu já tinha idade suficiente para não me envolver em disputas com colegas. Eu já tinha atingido a maioridade, embora andasse no ensino secundário, no último ano. No entanto, sofri doze anos. Doze anos a aguentar constantemente Brenda. Qualquer dia, o feitiço ter-se-ia de virar contra o feiticeiro. Abruptamente, lágrimas irromperam dos meus olhos. Escorreram pela minha face abaixo e embateram contra a palma da minha mão. Eu sabia porque estava a chorar. Chorava porque lembrava-me de todos os fracassos da minha vida.

Primeiro: Com sete anos assisti ao assassinato da minha única amiga em toda a vida, a Erica. Senti-me completamente impotente ao vê-la ser degolada por dois rapazes com aproximadamente quinze anos, só por quatro libras.

Segundo: Enfrentei a morte da minha avó com doze anos. Era um grande apoio, um suporte na minha vida. Preparava-me sempre um lanche delicioso quando chegava da escola! Causa da morte: acidente de viação.

Terceiro: Depressão que me obrigou a ficar num Hospital Psiquiátrico durante três longos meses. Causa: trauma da morte de um parente. Idade: catorze anos, quase a completar os quinze.

Quarto: Morte do meu único namorado. A única pessoa que me fez feliz em dezasseis anos. Ainda me lembro dele com aquele olhar caloroso e face de anjo! "Caleb". Era o seu nome. Pensar nele, provocava-me ainda uma certa solidão e tristeza. Ele nunca me deixava sozinha. Apoiava-me e sabia todos os meus segredos e eu sabia os dele. Parecíamos feitos um para o outro. Almas gémeas, mas... conseguiram separar-nos. Causa da morte: Uma árvore de grande porte caiu em cima dele quando ele estava a ajudar o tio no seu ganha-pão.

Então, relembrando todos estes momentos, lembrei-me que Jack safava-se bem sozinho.

Corri para a casa-de-banho. Coloquei ambas as mãos sobre o lavatório e mirei ao espelho fitando a rapariga que chorava. Olhei para ela. Tinha os cabelos castanhos e ondulados nas pontas. Longos. Os seus olhos eram grandes e verdes. Era ainda morena. Envergava uma camisola de lã azul, já roída por algum rato que se encontrava no seu gavetão. Executei movimentos e a imagem exercia-os também. Claro que sabia que era eu que estava representada naquele espelho! Olhei ao meu redor. Desesperada procurei uma tesoura. Finalmente encontrei-a. Novamente me coloquei em frente ao espelho. Agarrei numa longa madeixa do meu cabelo e cortei-a com a tesoura. Depois de cortada aquela madeixa, cortei o restante cabelo de forma irregular, bastante irregular. O cabelo caia no lavatório e as minhas lágrimas continuavam a escorrer violentamente. Finalmente o meu cabelo estava terrível. Olhei-me e estava "desfigurada". Chorei ainda mais. Procurei pelos meus calmantes e tomei-os numa dose exagerada.

Dirigi-me para o meu quarto onde coloquei em cima da cama todas as mochilas que tinha. Abri o roupeiro e os gavetões, amarrotando a roupa de modo a caberem nas minhas escassas quatro mochilas. Mudei de roupa, envergando umas calças de ganga escura, uma camisola vermelha, um casaco cinzento com capuz e uns ténis pretos. Levei também comigo o medicamento para as crises de asma, os calmantes e gás pimenta. Podia precisar dele.

Apressei-me a escrever uma carta a Jackson que descrevia todos os meus sentimentos. Eu passei a vida a idolatrá-lo enquanto ele me ignorava. Era essa a verdade... Pousei a carta ao lado do seu jornal e saí de casa.

Caminhei lentamente sobre a neve até chegar à estrada nacional. A estrada nacional não ficava muito longe de casa. Com alguma sorte, alguém me podia dar boleia. Não me interessava o destino. Apenas queria sair de Glasgow. Então, esperei pacientemente por alguém que me desse boleia. Todos olhavam para mim, mas ninguém parava. Coloquei o capuz sobre a cabeça. Talvez o cabelo estivesse a gritar que eu era uma delinquente. Esperei duas horas. Finalmente um carro parou. Um homem com cerca de cinquenta anos, com um sorriso que não me agradou muito, convidou-me para entrar. Hesitei, mas acabei por entrar. Passados uns segundos, ainda não tínhamos começado a andar, o homem tentou agarrar-me. Saquei do bolso das calças o gás pimenta e abri a porta, saindo a correr com as malas atrás de mim. Corri enquanto pude, enquanto o homem continuava aos gritos na sua carrinha. Enveredei por um monte coberto de fetos. Estes eram tão altos que quase me impossibilitavam de ver com nitidez o caminho. Julguei que sabia sair daquele monte, mas voltei repetidas vezes ao mesmo local. Estava definitivamente perdida. Sentei-me num tronco de árvore recentemente cortado, e peguei no telemóvel. Abri a lista telefónica e vi que ainda tinha o número de telemóvel de Caleb gravado. Coloquei novamente o telemóvel no bolso e tentei encontrar o caminho de acesso à estrada.

Estava prestes a anoitecer quando comecei a ouvir o barulho dos carros. Corri de encontro aos carros e encontrei a estrada. Quase pulei de alegria!

Novamente pedi boleia e, uma mulher balofa com a cabeleira farta parou. Sorriu-me e convidou-me para entrar.

- Então, minha jovem, estás disposta a ir para Staffs? - questionou a senhora.

- Qualquer local. - respondi.

- Muito bem. Então será essa a nossa próxima paragem.

Estas foram as últimas palavras que ouvi. Entretanto, adormeci profundamente acordando com o sol matinal a embater contra os meus olhos. Pensava eu que era o Sol matinal, mas já eram onze da manhã.

- Bom dia! - cumprimentou a senhora.

- Bom dia. - disse.

- Queres comer alguma coisa?

- Não. Estou bem, obrigada.

- Não tarda nada e estamos em Staffs.

- Ainda bem. - murmurei. - Por acaso, não sabe assim de algum emprego que eu possa arranjar por lá?

- Bem, tenho uma amiga que tem um café lá. Talvez ela te possa oferecer um emprego.

- Obrigada. - agradeci novamente.

publicado por Sophie às 00:00
Sexta-feira, 30 DE Julho DE 2010

O outro lado da lua - Capítulo I

 

 

 

Olá! Decidi gastar uns post à literatura. Desta vez, e espero que nãos e importem, vou criar uma história. Acima de tudo, quer gostem ou não, por favor, comentem! Eu gosto de ler comentários, até podem ser críticas porque eu não sou perfeita nem o tenciono ser! Obrigada!

 

Prefácio

 

Se algum dia eu ia imaginar que a minha vida daria uma reviravolta tremenda? Não. Se algum dia esperei que alguém dependesse de mim para sobreviver? Claro que não!

Eu nunca pensei que alguém esperasse algo de mim. Simplesmente não estava habituada. Nunca pensei sentir o verdadeiro amor mesmo depois daquelas mentiras, até porque eu nunca amei ninguém à excepção dele. Mas quando tudo estava certo, quando finalmente a felicidade irrompeu na minha vida, algo me assomou.

Tudo desapareceu. Era como se eu tivesse percorrido centenas de quilómetros para apanhar um pássaro, e quando o estivesse quase a apanhar, ele acelerasse o seu voo imaculado. E a vida acelerou. Acelerou de tal modo, que um desvio, um simples desvio fez com que todos os sonhos, todos as ambições fugissem a sete pés. De certa forma, a vida é cobarde.

Há dias em que atingimos o auge da felicidade. Outros, na qual, a nossa felicidade faz voo picado e embate no chão com violência.

Será isto justo?

O Deus que toda a gente proclama, é assim tão bom que permite que os que sofrem, sofram ainda mais?

Não.

 

Cap. I

Eu nunca fui muito uma rapariga muito dada a amizades. Todos me julgavam por ser a "filhinha do doutor mais giro da cidade" e por não ser tão bonita nem tão atraente quanto ele. Fizeram de mim um objecto, uma boneca daquelas que se podiam desmembrar e voltar a juntar todas as peçinhas, como se eu fosse algo montável e desmontável.

Desde cedo as agressões verbais fizeram parte do meu dia. Por sua vez, eu ignorava embora me apetecesse partir cada dente de cada pessoa que me zombava! De qualquer das formas não podia arrancar nem um cabelo de nenhuma das raparigas, embora vontade não me faltasse.

Certo dia, ainda me lembro como se fosse hoje, perdi completamente a cabeça. No balneário esconderam-me a roupa toda e quando a encontrei, estava completamente rasgada.

Completamente desnorteada, agarrei nos cabelos da Brenda e encostei-a contra a parede do balneário. Ela bateu fortemente com a cabeça, emitindo um som "oco". Os meus olhos ardiam. Eu queria falar, queria fazê-la pagar de tudo aquilo que me tinha feito, mas ela atacou primeiro.

Deu o passo que eu precisava para passar à acção.

Seguidamente, preguei-lhe um estalo que ecoou em todo o compartimento. Os seus olhos escuros brilhavam de raiva. Ela arreganhou os dentes e deu um grito. Novamente me agrediu. Agarrei-lhe nos cabelos igualmente negros e lisos e obriguei-a a cair no chão frio e molhado. Novamente bateu com a cabeça com violência no chão. As minhas mãos deixaram de agarrar os seus cabelos, e eu segurava uma grande porção de cabelo em ambas as minhas mãos. Ela esperneava-se e lançava as suas mãos finas contra o meu rosto. Conseguiu alcançá-lo algumas vezes. A nossa luta continuou e todas as raparigas do balneário, raparigas estúpida, por sinal, faziam apostas de quem sairia vencedora daquele combate feminino. Brenda parou de espernear e quando dei conta, os nós dos meus dedos, estavam manchados com uma substância vermelha - era sangue. Saí de cima do corpo imobilizado e vi que ela estava quase irreconhecível. O seu rosto tinha alguns cortes e brotava sangue. Olhei incrédula para o que havia feito. Fitei as suas amigas e elas fitaram-me com uma expressão de horror. Nenhuma pronunciou uma palavra nem deu um passo em frente para me enfrentar. Enrolei-me na minha toalha, peguei no meu saco e saí a correr. Atravessei o recinto escolar e dirigi-me para casa, que ficava apenas a uns duzentos metros de distância.

Atravessei a pequena floresta que dava acesso a casa. Era Inverno e caminhei pela neve com os pés desnudos. Os flocos de neve caíam sobre as minhas costas e sobre a nuca fazendo-me sofrer alguns calafrios.

Comecei a avistar a casa e retirei as chaves da carteira. Entrei em casa e senti o calor da lareira que aquecia a casa. Jackson - o meu pai, encarregou-se de a acender de manhã. Subi as escadas e dirigi-me para o meu quarto onde coloquei umas roupas sobre o meu corpo.

Estranhamente não me sentia completamente mal por ter batido na Brenda. Ela merecia isso e muito mais! No entanto, Jack já devia saber da alhada onde me tinha metido. A directora, exercendo assim o seu cargo, já devia ter ligado para o hospital dando conhecimento do meu comportamento violento e invulgar. De qualquer das formas, a directora não se importava de lhe ligar, dado que, era uma forte candidata a minha madrasta. Jack nem sabia o impacto que causava nas mulheres! Tinha um estilo muito próprio, o que lhe conferia um ar jovem e moderno que não demonstrava os seus quarenta e um anos de vida. Apesar de ter o cabelo um pouco grisalho, os seus olhos verdes e profundos davam a volta a qualquer mulher que para ele olhava. Não me admirava o facto de a minha mãe se ter apaixonado cegamente por ele! E vim eu para pôr termo à felicidade do jovem casal que tinha acabado de ter uma filha saudável! Sim, porque mal eu nasci, a minha mãe teve uma paragem cardíaca e respiratória. Fizeram-lhe uma operação, na qual Jack estava incluído tentando salvar a vida à sua razão de existir. E eu, do outro lado da sala, provavelmente, a sorrir enquanto todos tentavam salvar a vida de Lois. Todos sabiam que era um parto com algum risco. Mas nunca ninguém pensou que levasse à sua morte. Pelo menos, Jack conta-me assim. E... ficamos apenas dois para contar a história, já que os meus avós, quer maternos quer paternos, morreram em acidentes. Jack diz que não tem irmãos e a minha mãe era filha única. Ainda acho que Jack preferia que eu morresse em vez de ter sido a sua querida e amada Lois. Provavelmente, naquele momento, não faria qualquer diferença, nem mesmo agora.

publicado por Sophie às 17:43
sinto-me:
música: falling
Terça-feira, 27 DE Julho DE 2010

A little message

 

 

 

 

If you want come back,

If you want to live your life without fear,

Prove at yourself that you don´t have fear.

If you want to see the sunlight again,

open your eyes and see the small things in your life.

If you want to be happy,

see the hapiness in the others.

If you want be loved,

Love.

 

 

publicado por Sophie às 18:34
sinto-me: não muito bem
música: trouble

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